TESE: Extração de espermatozóides do testículo

TESE é o acrônimo do termo “Testicular Sperm Extraction”. O método, inicialmente descrito por Devroey e colaboradores, foi inicialmente utilizado para extrair espermatozoides testiculares de homens inférteis, portadores de azoospermia não obstrutiva (ANO).

O principio da TESE é o mesmo da TESA (Testicular Sperm Aspiration), ou seja, extrair parênquima testicular. Porém, ao contrário da TESA, onde a abordagem é percutânea, na TESE a extração é realizada de forma “aberta”, geralmente a olho nu. Emprega-se anestesia geral e/ou loco-regional, em caráter ambulatorial. Embora possa ser indicada tanto nos casos de azoospermia obstrutiva quanto não obstrutiva, seu uso na prática clínica está mais restrito aos casos mais difíceis envolvendo ANO.

Incisa-se a pele do escroto (1-2 cm) e procede-se a abertura das camadas subjacentes até a albugínea. Na técnica de “janela”, comumente utilizada, o testículo é mantido no interior da bolsa testicular e a túnica albugínea é incisada, com auxílio do bisturi, numa região avascular. Realizam-se incisões únicas ou múltiplas na albugínea, de 2-10 mm, e em seguida aplica-se leve pressão no testículo para facilitar a extrusão do parênquima testicular, que é removido com pinça ou tesoura. As incisões na albugínea são suturadas com fio inabsorvível 5-0. A TESE com múltiplas incisões oferece a vantagem da colheita de biópsias dos três polos testiculares, ao passo que na variante com incisão única, as biópsias são obtidas a partir de uma só região. Pelo fato dos focos de espermatogênese serem distribuídos de forma heterogênea nos casos de ANO, a TESE com incisões múltiplas tem sido preferida, pois associa-se a taxas de sucesso mais elevadas. O parênquima testicular removido é enviado ao laboratório e o processamento e a análise do material são realizados de forma semelhante àquela empregada na TESA. Parte do material extraído deve ser enviada para aná- lise histológica, para confirmação do tipo de azoospermia, obstrutiva ou não obstrutiva. Caso nenhum espermatozoide seja encontrado, biópsias adicionais, no testículo ipsilateral ou contralateral, podem ser realizadas no mesmo ato cirúrgico.

As vantagens da TESE sobre a abordagem percutânea (TESA — Testicular Sperm Aspiration) são: I. Extração de maior quantidade de parênquima testicular, o que aumenta as taxas de sucesso do procedimento; II. Hemostasia adequada, diminuindo o risco da formação de hematoma pós-operatório. Entretanto, a remoção de grande quantidade de parênquima testicular, principalmente nos casos de biópsias múltiplas, pode acarretar insuficiência androgênica, especialmente nos pacientes com testículos hipotróficos. Além disto, quanto maior a quantidade de parênquima testicular extraído, maior será o tempo e esforço necessário para o processamento e análise deste material no laboratório, o que pode acarretar complicações logísticas na execução da ICSI num tempo hábil.

De forma geral, a eficiência da TESE na recuperação de espermatozoides nos pacientes com azoospermia não obstrutiva é de cerca de 49 % (Donoso et al. 2007). Num estudo envolvendo 60 pacientes com ANO, a taxa de sucesso da TESE com biópsia única foi de 25 %, sendo 64 % nos casos cuja histologia testicular revelou hipospermatogênese, 9 % na parada de maturação germinativa, e 6 % na aplasia germinativa. Uma variante mais eficiente desta técnica, conhecida como micro-TESE, cujo princípio baseia-se na realiza- ção de biópsias testiculares dirigidas por microcirurgia, tem sido preferida nos casos de azoospermia não obstrutiva.

Em resumo, a TESE é um método cirúrgico aberto para a extração de espermatozoides testiculares de homens inférteis, indicado principalmente nos casos de azoospermia não obstrutiva (ANO).

BIBLIOGRAFIA RECOMENDADA:

1. Devroey P, Liu J, Nagy Z, Goossens A, Tournaye H, Camus M, et al. Pregnancies after testicular sperm extraction and intracytoplasmic sperm injection in non-obstructive azoospermia. Hum Reprod. 1995;10:1457-60.
2. Esteves SC, Miyaoka R, Orosz JE, Agarwal A. An update on sperm retrieval techniques for azoospermic males. Clinics (Sao Paulo). 2013;68:99-110.
3. Donoso P, Tournaye H, Devroey P. Which is the best sperm retrieval technique for non-obstructive azoospermia? A systematic review. Hum Reprod Update. 2007;13:539-49.
4. Esteves SC, Varghese AC. Laboratory handling of epididymal and testicular spermatozoa: What can be done to improve sperm injections outcome. J Hum Reprod Sci. 2012;5:233-43.
5. Verza Jr S, Esteves SC. Microsurgical versus conventional single- -biopsy testicular sperm extraction in nonobstructive azoospermia: a prospective controlled study. Fertil Steril 2011;96(Suppl.): S53.

Atualializado em Setembro 2019

Responsável: Dr Sandro Esteves