Micro-TESE: Microdissecção Testicular

Micro-TESE é o acrônimo do termo “Microdissection Testicular Sperm Extraction”. O método, inicialmente descrito por Schlegel, tem sido proposto como uma alternativa mais eficiente à TESE para a obtenção de espermatozoides de homens portadores de azoospermia não obstrutiva (ANO).

O princípio da micro-TESE é permitir uma visão direta e ampliada dos túbulos seminíferos com auxílio do microscópio cirúrgico, resultando numa chance maior de identificar áreas contendo espermatogênese ativa, que são extraídas. De forma semelhante à TESE, trata-se de uma cirurgia aberta. Enquanto na TESE as biópsias são realizadas a olho nu, na micro-TESE estas são guiadas por microscopia cirúrgica. Para tal, emprega-se anestesia endovenosa e/ou loco-regional em caráter ambulatorial.

Após a exteriorização do testículo, a albugínea é incisada amplamente no plano equatorial, com auxílio do bisturi, evitando-se lesar os vasos sanguíneos subalbugíneos. Magnificação óptica entre 10-25 vezes é utilizada durante todo o procedimento. O parênquima testicular é exposto amplamente, permitindo a dissecção e inspeção dos túbulos seminíferos. A dissecção é realizada cuidadosamente entre os túbulos seminíferos, de forma a preservar o suprimento sanguíneo adjacente. Os túbulos “ingurgitados”, que têm maior probabilidade de apresentar células germinativas e espermatogênese completa, são removidos e enviados ao laboratório para análise. Caso não sejam encontrados túbulos ingurgitados, qualquer túbulo maior em diâmetro, em comparação ao restante, é removido.

No laboratório, os túbulos seminíferos são dispersados mecanicamente para liberação do conteúdo celular e a suspensão é imediatamente analisada sob microscopia óptica, para confirmar a presença de espermatozoides. O cirurgião é informado prontamente caso nenhum espermatozoide seja encontrado na análise inicial, permitindo que se decida quanto ao prosseguimento da microdissecção no mesmo testículo ou mudança para o testículo contralateral. Ao final do procedimento, a albugínea é suturada com fio inabsorvível 5-0. O testículo é recolocado na bolsa testicular e as demais camadas são suturadas com fio absorvível.

Havendo ausência de espermatozoides após a dispersão mecânica de todo o material removido, procede-se a digestão enzimática, utilizando-se colagenase, da suspensão contendo os túbulos seminíferos já dispersados mecanicamente. Este tratamento tem por objetivo reduzir a celularidade e os debris na suspensão, facilitando a “varredura” da amostra e a identificação eventual de algum espermatozoide.

Uma revisão sistemática recente, envolvendo sete estudos comparativos e 1062 pacientes com ANO, demonstrou que a taxa de sucesso da micro-TESE é superior (43- 63%) àquelas obtidas na TESE (17-45 %). Num estudo do nosso grupo, envolvendo 356 pacientes com ANO, as taxas de sucesso na recuperação de espermatozoides foram de 41,4 % de forma geral e 100 %, 40 % e 19,5 % nos casos de hipospermatogênese, parada de maturação germinativa e aplasia germinativa, respectivamente. Tem sido demonstrado que a micro-TESE resgata cerca de 1/3 dos casos onde a TESA/TESE falharam previamente.

Além da maior probabilidade de recuperar espermatozoides, a micro-TESE oferece outras vantagens, a saber: I. A utilização de microscopia cirúrgica possibilita identificar o plano avascular na abertura da túnica albugínea, minimizando os riscos de sangramento e dano à vascularização testicular; II. A dissecção dos túbulos seminíferos sob visão microcirúrgica permite preservar a vasculatura intratesticular e evitar as complicações frequentemente associadas à TESE convencional, como hematoma, fibrose intratesticular e insuficiência androgênica; III. A biópsia microcirúrgica dirigida permite que menores quantidades de tecido sejam removidas (50-70 vezes menor em relação à TESE), minimizando o risco de insuficiência androgênica e facilitando o manuseio do material no laboratório.

Em resumo, a micro-TESE é um método microcirúrgico de extração de espermatozoides, indicado para homens inférteis portadores de azoospermia não obstrutiva. A micro-TESE é considerada o método mais eficiente para este fim, pois alia taxas mais elevadas de sucesso e menor dano testicular, quando comparada às variantes não microcirúrgicas.

BIBLIOGRAFIA RECOMENDADA:

1. Schlegel PN. Testicular sperm extraction: microdissection improves sperm yield with minimal tissue excision. Hum Reprod. 1999;14:131-5.
2. Esteves SC. Microdissection testicular sperm extraction (micro-TESE) as a sperm acquisition method for men with nonobstructive azoospermia seeking fertility: operative and laboratory aspects. Int Braz J Urol. 2013;39:440; discussion 441.
3. Esteves SC, Varghese AC. Laboratory handling of epididymal and testicular spermatozoa: What can be done to improve sperm injections outcome. J Hum Reprod Sci. 2012;5:233-43.
4. Deruyver Y, Vanderschueren D, Van der Aa F. Outcome of microdissection TESE compared with conventional TESE in non-obstructive azoospermia: a systematic review. Andrology. 2014;2:20-4.
5. Esteves SC, Prudencio C, Seol B, Verza S, Knoedler C, Agarwal A. Comparison of sperm retrieval and reproductive outcome in azoospermic men with testicular failure and obstructive azoospermia treated for infertility. Asian J Androl. 2014;16:602-6.

Atualização em Setembro 2019

Responsável: Dr Sandro Esteves