Impacto dos anticorpos antiespermatozóides de superfície nos resultados da ICSI. Int Braz J Urol, vol 29, Suppl. Special, pág. 119, September-October 2003.
Impacto dos anticorpos antiespermatozóides de superfície nos resultados da ICSI
Verza Jr., S., Esteves, S.C.
ANDROFERT , Centro de Referência em Infertilidade Masculina, Campinas – SP
Introdução e Objetivos: Anticorpos antiespermatozóides (AAE) podem diminuir a fertilidade, uma vez que alteram a penetração no muco cervical, a fusão espermatozóide-oócito, além de alterar a motilidade e promover a aglutinação espermática. O objetivo deste estudo foi avaliar a influência dos anticorpos antiespermatozóides presentes na superfície dos espermatozóides nos resultados da injeção intracitoplasmática do espermatozóide no óvulo (ICSI).
Materiais e método: Foram analisados 108 ciclos de ICSI, realizados de janeiro de 1999 a dezembro de 2002, nos quais havia investigação prévia de AAE no sêmen. A detecção de anticorpos foi realizada utilizando-se o teste de immunobeads direto (H+L, Irvine Scientific, EUA), para determinar a percentagem de espermatozóides com anticorpos ligados a sua superfície. Os casos foram divididos em 4 grupos, de acordo com o percentual de AAE: Grupo I (n=62): 0% a 10% de AAE; Grupo II (n=32): 11% a 20%; Grupo III (n=8): 21% a 50% e Grupo IV (n=6): 51 a 100% .
O processamento seminal, foi realizado pela técnica do gradiente descontínuo coloidal. Avaliou-se os resultados da ICSI em relação às taxas de fertilização, velocidade de clivagem, grau de fragmentação e número de blastômeros dos pré-embriões. Foi utilizado o teste não-paramétrico Kruskal-Wallis ANOVA, com nível de significância 0,05 para comparar os resultados entre os 4 grupos.
Resultados: Não foram encontradas diferenças significantes entre os quatros grupos, em nenhum dos parâmetros analisados, sendo os principais apresentados na tabela.
Média( ± DP) | Grupo I | Grupo II | Grupo III | Grupo IV | valor p |
FERTILIZAÇÃO 2PN | 71,8 (22,4) | 66,3 (23,3) | 74,9 (10,3) | 68,15 (15) | NS |
FERTILIZAÇÃO 3PN | 6,6 (12) | 7,4 (13,4) | 3,9 (3,7) | 12,5 (20,9) | NS |
EMBRIÕES BONS 1 D2 | 59,2 (30,2) | 51,7 (26,9) | 42,6 (34,7) | 72,9 (67,4) | NS |
EMBRIÕES RUINS 2 D2 | 7,6 (16,2) | 3,3 (6,6) | 7,4 (11) | 3,3 (8,1) | NS |
EMBRIÕES BONS 3 D3 | 33,6 (25,8) | 39,3 (27,1) | 23,6 (22,3) | 68,5 (31,7) | NS |
EMBRIÕES RUINS 4 D3 | 7,1 (19,3) | 4,2 (8,8) | 6,1 (13,5) | 0 | NS |
VC* D2 NORMAL | 51,9 (27,9) | 46,3 (27,9) | 35,5 (24,6) | 68,2 (66,1) | NS |
VC D2 LENTA | 30,4 (24,2) | 41,9 (28,3) | 46,4 (30) | 43,1 (35,2) | NS |
VC D2 AUMENTADA | 15,4 (19,4) | 10 (14) | 13,2 (16,3) | 8 (12,8) | NS |
VC D3 NORMAL | 35,4 (25,4) | 36,4 (24,5) | 20,4 (18,6) | 49,9 (29,2) | NS |
VC D3 LENTA | 56,3 (32,8) | 45 (31,2) | 65,7 (33,2) | 35,7 (31) | NS |
VC D3 AUMENTADA | 6,3 (11,9) | 11,2 (19,6) | 7,9 (9,3) | 33,7 (41,9) | NS |
TAXA CLIVAGEM | 95,2 (15,5) | 89,9 (22,1) | 92,9 (16,8) | 100 | NS |
1 >3 blastômeros grau 1 e 2; 2 > 3 blastômeros grau 3 e 4; 3 > 7 blastômeros grau 1 e 2; 4 > 7 blastômeros grau 3 e 4; *VC= Velocidade de Clivagem |
Conclusão: Apesar das alterações observadas in vivo no processo de fecundação na presença de AAE, estes anticorpos parecem não influenciar os resultados da ICSI, provavelmente devido: 1) ao processamento seminal com gradientes de densidade, que elimina parte dos anticorpos aderidos aos espermatozóides; 2) pelo fato da ICSI ultrapassar a etapa da fusão do espermatozóide com a zona pelúcida do oócito, mostrando assim que a ICSI é eficaz no tratamento da infertilidade relacionada à presença de AAE no sêmen.