Efeito da energia eletromagnética emitida pelo telefone celular nos parâmetros seminais de homens atendidos numa clínica de infertilidade

Efeito da Energia Eletromagnética Emitida pelo Telefone Celular nos Parâmetros Seminais de Homens Atendidos numa Clínica de Infertilidade
Cinthia M. Feijó & Sandro C. Esteves
ANDROFERT – Centro de Referência para Reprodução Masculina, Campinas/SP, Brasil

INTRODUÇÃO: O uso do celular é utilizado em larga escala em vários países. O efeito das ondas eletromagnéticas sobre a saúde depende da sua freqüência e intensidade. Atualmente existem diversos estudos que especulam sobre os efeitos das ondas eletromagnéticas emitidas por celulares sobre a espermatogênese e a qualidade seminal. Como diversos fatores ambientais e ocupacionais têm sido associados à infertilidade masculina, a identificação destes fatores pode auxiliar no melhor aconselhamento do paciente subfértil. Neste estudo, objetivamos mensurar o efeito da energia eletromagnética emitida pelos celulares nos parâmetros seminais de um grupo de homens sob investigação de infertilidade conjugal.

MATERIAIS E MÉTODOS: Estudo prospectivo envolvendo 343 pacientes atendidos num serviço de reprodução humana, no período de Março/08 a Outubro/09, com queixa de infertilidade conjugal. A participação foi voluntária e todos os pacientes assinaram um termo de consentimento informado. Foram excluídos os indivíduos com azoospermia ou criptozoospermia. Duas amostras de sêmen de cada indivíduo foram obtidas por masturbação, após um período de abstinência sexual de 2 a 5 dias, e sua análise foi realizada de acordo com os critérios da Organização Mundial da Saúde, 1999. Os pacientes foram agrupados de acordo com a duração da exposição à energia eletromagnética, e os parâmetros seminais comparados entre os subgrupos. Co-variáveis como tabagismo, etilismo, doenças pré-existentes e uso de medicamentos foram identificadas e o seu impacto avaliado.

RESULTADOS: Não foram observadas diferenças significativas nos parâmetros seminais dos indivíduos expostos a diversos períodos de exposição à energia eletromagnética. Também não foram observadas associações estatisticamente significantes entre os grupos de tempo de uso diário de celular e a análise seminal na amostra total e dividida segundo presença ou ausência de fatores de risco.

DISCUSSÃO: Há anos as companhias telefônicas de celulares asseguram aos usuários que os telefones celulares são perfeitamente seguros para a saúde. Entretanto, o meio científico se divide quanto a essa segurança. Num estudo realizado com 361 homens divididos em 4 grupos conforme o tempo de uso diário do celular foi encontrado diferença estatisticamente significativa quando compararam a média da concentração, motilidade, vitalidade e morfologia (Agarwal et al., 2008). Os valores dos parâmetros seminais diminuíram em todos os 4 grupos de usuários de telefones celulares conforme o tempo de exposição diária aumentava. Em outro estudo, envolvendo 371 homens, foi avaliado o tempo de uso diário do telefone celular, exposição ao celular no modo “espera” e o tempo de posse do celular (Fejes et al. , 2005). Os autores não encontraram correlação significativa entre o tempo de exposição ao telefone celular no modo “espera” com os parâmetros seminais. Já em relação ao tempo de uso diário, os resultados revelaram uma diminuição significativa nos espermatozóides com motilidade progressiva rápida e um aumento na motilidade progressiva lenta conforme aumentava o tempo de uso diário.

CONCLUSÃO: No presente estudo, não observamos associação entre a exposição à energia eletromagnética emitida pelo celular e alterações nos parâmetros seminais de um grupo específico de indivíduos. Sugere-se que mais estudos sejam realizados para melhor definição dos reais efeitos da energia eletromagnética na fertilidade, e identificação dos indivíduos mais vulneráveis aos seus efeitos supostamente deletérios.