A gravidade do defeito espermático, e não a fonte do espermatozóide, está associada com menores taxas de fertilização após a injeção intracitoplasmática do espermatozóide (ICSI). Trabalho apresentado no VIII Congresso Brasileiro de Reprodução Assisti

A gravidade do defeito espermático, e não a fonte do espermatozóide, está associada com menores taxas de fertilização após a injeção intracitoplasmática do espermatozóide (ICSI)

Objetivo:
 Avaliar o impacto do defeito espermático e da fonte do espermatozóide nos resultados da ICSI.

Material e métodos: Este estudo incluiu 313 ciclos de ICSI realizados de janeiro/2002 a novembro/2003. Os ciclos foram divididos em dois grupos principais, de acordo com a fonte do espermatozóide: ejaculado (grupo 1; n=220) e espermatozóides obtidos do testículo/epidídimo (grupo 2; n=93). O grupo 1 foi subdividido em 4 grupos de acordo com a gravidade da anormalidade na análise seminal: defeito único (oligo- [ O ] ou asteno- [ A ] ou teratozoospermia [ T ], n=41); defeito duplo (uma combinação de dois defeitos, n=45); defeito triplo (OAT, n=48), e controle (nenhum defeito espermático, n=86). O grupo II foi subdividido de acordo com a causa da azoospermia: obstrutiva (AO: n=39) e não-obstrutiva (ANO: n=54). A seleção e a microinjeção do espermatozóide foi realizada por um único operador usando magnificação óptica de 400X. A idade feminina, o número médio dos oócitos total e MII recuperados, e o número médio dos embriões transferidos não foram estatisticamente diferentes entre os grupos. As taxas de fertilização (2PN), clivagem, qualidade embrionária, gravidez clínica e as taxas do aborto foram comparadas estatisticamente usando one-way ANOVA e o Chi 2 , com P<0,05 considerado significativo. Resultados: Taxas de fertilização significativamente menores foram obtidas quando o espermatozóide ejaculado com defeito triplo ou o espermatozóide testicular dos pacientes com ANO foram usados para ICSI em comparação aos outros grupos (tabela 1). Não houve diferença nas taxas de fertilização quando se utilizou espermatozóides do epidídimo ou testículo dos pacientes com AO, ou com espermatozóides ejaculados com alterações leves (defeito único ou duplo). Taxas de clivagem, qualidade embrionária e gravidez não foram estatisticamente diferentes entre os grupos ejaculado e AO, sendo significantemente menores no grupo ANO.

Grupo 1 Grupo 2
Defeito único (n=41) Defeito duplo (n=45) Defeito triplo (n=48) Controle (n=86) AO (n=39) ANO (n=54) p
2 PN (%) 73,2±22,1 72,1±19,6 63,4±26,9 * 71,3±24,1 73,6±20,7 52,2±29,3 * <0,05
Clivagem (%) 89,6±21,4 93,5±17,4 88,1±28,6 92,8±18,1 94,8±10,2 77,7±34,0 * <0,05
Boa qualidade embrionária (%) 50,5±30,9 46,9±31,1 48,3±35,8 48,4±34,8 46,3±30,0 35,7±27,4 * <0,05
Gravidez clínica (%) 36,6 44,4 51 40,9 51,3 25,9 * 0,01
Aborto (%) 9,1 12,5 12 19,4 20 14,3 NS

Conclusão: A construção de uma sala limpa classe 100 (ISO 5) para a micromanipulação dos gametas e cultura de embriões, e o tratamento do ar das áreas onde se realizam fases críticas do processo, como a captação oocitária e transferência de embriões, aumentaram significativamente a qualidade embrionária, as taxas de clivagem e gravidez, e diminuíram a taxa de abortamento espontâneo, em comparação com o tratamento do ar apenas do laboratório de FIV num sistema de menor eficiência. Os resultados obtidos permitem-nos concluir que quanto maior o nível de controle da poluição ambiental no laboratório de FIV e áreas adjacentes, melhor a eficiência do processo.